Não à Anistia para os Culpados

16/12/2014 - 17:15

Não à Anistia para os Culpados

A data em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos (10/12), em 2014 tornou-se histórica e marcou a quebra do silêncio que permaneceu por 50 anos, deixando impune 377 agentes de crimes na ditadura militar no Brasil, conforme levantamento do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV). 

Criada pela Lei 12528/2011, e instalada em maio de 2012, a CNV foi criada para apurar e esclarecer, indicando as circunstâncias e a autoria, as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988 (período entre as duas últimas constituições democráticas brasileiras) com o objetivo de efetivar o direito à memória e a verdade histórica e promover a reconciliação nacional

Para isso, adotou preceitos internacionais e delimitou que as graves violações de direitos humanos são as cometidas por agentes do Estado, a seu serviço ou com a conivência/aquiescência estatal, contra cidadãos brasileiros ou estrangeiros.

Em seu relatório, entregue à presidente Dilma Rousseff na última quarta-feira, com  mais de 4,4 mil páginas, divididas em 3 volumes, e também disponível no site www.cnv.gov.br, a Comissão trouxe o resultado de 2 anos e 7 meses de investigações.

Nele foram apontados os responsáveis pelas prisões sem base legal, seqüestros, tortura e mortes dela decorrentes, violências sexuais, execuções e ocultação de cadáveres e desaparecimentos forçados, todos praticados de forma massiva e sistemática contra a população. Essas violações tornam-se portanto  crime contra a humanidade.

Dos 377 acusados, 200 ainda encontram-se vivos, o que levou a Comissão, entre suas conclusões,  recomendar ao Estado Brasileiro a responsabilização jurídica – do ponto de vista civil, criminal e administrativo – de todos.

Essa foi a maior lista já produzida que aponta agentes do Estado como autores diretos de graves violações aos direitos humanos, isso porque também inclui os superiores desses agentes, seguindo a hierarquia de comando que chega à Presidência da República, onde verificou-se que os crimes registrados faziam parte de uma política de Estado.

Quanto aos mortos e desaparecidos no período militar, a CNV registrou 434 vítimas, das quais 210 continuam desaparecidas, e por isso foi sugerido a criação de um órgão governamental para dar continuidade às buscas dos seus restos mortais.

Outro ponto que chamou bastante atenção, trata-se da acusação de médicos que atuavam nos institutos médicos legais e que, segundo a CNV, fraudavam laudos para dar cobertura às ações ilegais dos agentes de repressão. Um dos médicos citados é Harry Shibata, que assinou o laudo do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, contribuindo para a versão de suicídio.

Ao final do relatório, a Comissão enumerou no total  29 recomendações, que entre as principais , além das  já citadas, abordam: A proibição de eventos oficiais em comemoração ao golpe militar; A revogação da Lei de Segurança Nacional; Desvinculação do institutos médicos legais e da perícia criminal, das secretarias de segurança pública e das polícias civis; Desmilitarização das polícias militares estaduais; entre outros.

A presidente Dilma Rousseff se comprometeu em "debruçar" o Estado Brasileiro sobre o relatório, "olhar as recomendações e propostas e tirar as consequências necessárias".

“A conclusão dos trabalhos e o relatório final da CNV é um importante marco sobre este passado negro na história de nosso País. Foi determinado o número de vítimas e seus algozes, resta agora, por questão de justiça, ao Supremo Tribunal Federal rever a Lei de Anistia e abrir caminho para a punição dos culpados”  afirma Ivan Gomes Caetano, presidente do Sindicato.

Comentar

CAPTCHA
Esta pergunta é para testar se você é ou não um visitante humano e para evitar envios automatizados de spam.

Comentários recentes

Newsletter

Mantenha-se informado com nosso boletim online

Denuncie